Mecanismos neurais da dor neuropática

Abstract

A dor neuropática (DN) é a dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial que levam à transmissão alterada e desordenada de sinais sensoriais para o SNC. A prevalência da DN varia entre 6,9 e 10% na população em geral e interfere diretamente na qualidade de vida dos pacientes, relacionada à depressão, ansiedade e distúrbios do sono, aumentando custos dos cuidados de saúde. O objetivo deste trabalho é descrever os mecanismos neurais envolvidos na DN. Trata-se de revisão bibliográfica realizada nas bases de dados Scielo, Pubmed e Google com os descritores: dor, dor neuropática, mecanismos centrais e periféricos da dor neuropática, vias da dor, epidemiologia, diagnóstico e seus correspondentes em língua inglesa, publicados entre de 2006 a 2021. De acordo com os mecanismos neurobiológicos e fisiopatológicos classificamos a dor em nociceptiva ou neuropática. A dor nociceptiva decorre da excitação dos nociceptores, na presença ou ausência de lesão tecidual, mas obrigatoriamente em um sistema nervoso somatossensorial funcionalmente intacto. Na DN o sistema somatossensorial está acometido por lesão, o nível central ou periférico. A DN central apresenta uma lesão ao nível do SNC por exemplo associada a um trauma. Na DN periférica as lesões estão no nervo periférico, no plexo ou na própria raiz dorsal, como na neuralgia do trigêmeo. As lesões no sistema nervoso periférico ou SNC resultam em alterações desadaptativas nos neurônios ao longo da via nociceptiva que podem causar DN. Como sintomas da DN podemos observar isolados ou em combinações: parestesia, disestesia, dor evocada ou espontânea. A fisiopatologia é composta por diversos mecanismos que incluem sensibilização periférica e central, descargas ectópicas, facilitação pró nociceptiva, desinibição do sistema nociceptivo, dor simpaticamente mantida e processos de reorganização do SNC. A hiperalgesia envolve os nociceptores e os neurônios de primeira ordem e pode ter origem central ou periférica. A exposição desses aos mediadores inflamatórios resultam na redução do seu limiar de despolarização. Na hiperalgesia central há aumento da excitabilidade de neurônios no corno dorsal da medula espinhal, de surgimento imediato e dependente de atividade, que ocorre após altos níveis de atividade dos aferentes nociceptivos. É consequência da intensa estimulação das fibras C, que geram potenciais de ação, e liberam glutamato no corno dorsal, ativando receptores NMDA. Esses efeitos se difundem para outras entradas que provêm de mecanorreceptores de baixo limiar, assim, dando origem à sensação de dor (alodinia). Esses mecanismos não são foram totalmente esclarecidos, e podem coexistir em um mesmo paciente, e não dependem da causa da DN. O estudo desta condição resultou na elaboração de novos algoritmos de diagnóstico e no desenvolvimento de ferramentas específicas para seu rastreamento e mensuração. A multiplicidade de mecanismos diferentes e o componente afetivo motivacional dificultam a distinção entre a DN e a dor da nocicepção (testada em modelos de dor pré-clínica). O melhor entendimento dos mecanismos poderá contribuir para identificação precisa e tratamento eficiente, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes.