A incrível conexão cérebro-intestino: uma relação entre a microbiota intestinal e os transtornos mentais

Abstract

O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) é regulado por sinais intrínsecos e periféricos. Estudos anteriores sugeriram que fatores ambientais afetam as atividades neurológicas tanto em condições fisiológicas quanto patológicas. Embora haja separação anatômica, evidências indicaram a existência de interação entre a microbiota intestinal e o cérebro, a qual pode ter um impacto crucial durante os processos neurogerativos básicos, em doenças neurodegenerativas e tumores do SNC. A microbiota intestinal representa agrupamentos de micro-organismos que exercerem várias atividades indispensáveis para a regulação da homeostase. Esta, além da manutenção funcional do trato gastrointestinal (TGI), faz interferência na regulação do eixo de conexão entre o sistema nervoso entérico (SNE) com sistema nervoso central, denominado eixo cérebro-intestino, sendo uma comunicação bidirecional. O termo ?eixo cérebro-intestino? tem sido amplamente utilizado no estudo da comunicação entre o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central, uma relação vital para a manutenção da homeostase e cujo desequilíbrio pode resultar em alterações na resposta ao estresse e no comportamento humano. A microbiota intestinal pode sinalizar para o cérebro por meio do sistema imunológico, pelo nervo vago ou através de outras interações hospedeiro-microbiota facilitadas por hormônios intestinais, pela regulação do triptofano e por metabólitos microbianos, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), a fim de influenciar o desenvolvimento, a função e comportamento do cérebro. Resultados obtidos de estudos anteriores sugerem que a microbiota intestinal pode desempenhar um papel na formação de redes neurais as quais envolvem os domínios sociais em distúrbios do neurodesenvolvimento. O envelhecimento é caracterizado pelo declínio funcional de tecidos e órgãos e aumento do risco associado ao desenvolvimento de doenças, que representam grandes desafios para a sociedade e são uma prioridade de saúde pública. Apesar de extensos estudos, um progresso limitado foi feito ligando a genética com envelhecimento. Há uma percepção crescente de que a estrutura e dinâmica da microbiota intestinal participa ativamente do processo de envelhecimento. A disbiose microbiana relacionada à idade está envolvida em remodelagem de respostas imunológicas, que se manifestam como imunossenescência (insuficiência) e inflammaging (reação exacerbada), os quais acompanham muitos componentes entéricos e extra-entéricos associados às doenças senis. A microbiota intestinal pode ser regulada, sugerindo um alvo potencial para intervenções no envelhecimento e tratamento de desordens neurológicas. Por se tratar de um tema ainda novo, a escassez de estudos dificulta e limita os avanços na área. No entanto, sabemos que a microbiota intestinal sofre influências externas desde sua formação precoce, como experiências maternas ao longo da gestação, tipo de parto, uso de medicações etc. Evidências sugerem que as alterações do microbioma intestinal podem estar relacionadas à gênese de doenças mentais, principalmente daquelas relacionadas à idade como Doença de Parkinson ou até mesmo a Doença de Alzheimer, além de resposta orgânica exacerbada ao estresse rotineiro. Dada sua importância na saúde e na doença, a microbiota intestinal representa uma nova avenida nos estudos de envelhecimento saudável.