Óleo de coco : misticismos nutricionais, debates midiáticos e paralelo com a literatura

Abstract

Transformações significativas no panorama alimentar de países ocidentais resultaram em cenário desequilibrado, característico do processo de transição nutricional e epidemiológica vivenciado pelo Brasil na atualidade. Na busca por melhora deste quadro de saúde, certos alimentos, como o óleo de coco (OC), receberam atenção exacerbada, motivada por visões reducionistas e imediatistas do ato de alimentar-se - proveniente de profissionais de áreas variadas e também de leigos, com interesses de saúde e outros. A divulgação massificada de alegações influencia alterações alimentares potencialmente danosas à saúde. Este quadro, analisado sob o aspecto das informações relativas ao OC em sites na internet ? por sua grande influência no conteúdo do conhecimento popular - contribui com a elucidação da participação deste fenômeno em particular no panorama nutricional confuso e mistificado que se construiu. Objetivo: Pesquisar em sites informações sobre o consumo de OC e supostos efeitos na nutrição humana, analisar a metodologia de referências e comparar com literatura relevante. Metodologia: Foi realizada leitura, classificação de conteúdo e análise de artigos referenciados nas primeiras 30 páginas ? 406 sites no total - resultantes da procura pelo termo ?óleo de coco? no Google. Alegações de maior incidência e diretrizes foram comparadas com literatura disponível. Resultado: Dos sites visitados, 20% não tinham relação com o termo. Dos 324 restantes, 8% recomendavam cautela no uso, 17% eram sites de vendas sem alegações de propriedades e 26% eram sites com alegações e com venda. Entre os sites que indicavam alguma coisa sobre o assunto (incluindo os de venda, mas não os que só vendiam o produto), ou seja, 270 sites, somente 25 traziam recomendação de moderação e cautela. As 3 alegações - relativas ao consumo ? mais frequentes foram o favorecimento do emagrecimento (presente em 36%), aumento de energia (29%) e ser rico em antioxidantes (26%). Todas as três alegações se mostraram infundadas e o conteúdo de antioxidantes se mostrou insuficiente. Sites que recomendam o uso irrestrito tendem a não mencionar ou referenciar estudos. Notou-se a ausência de sites de diretrizes e pareceres oficiais (governamentais ou de organizações de saúde como a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a de Nutrologia) dentre os resultados da pesquisa. Os estudos usados para justificar o uso do óleo, contém inúmeras questões metodológicas e não condizem com as supostas alegações difundidas. Conclusões: A pesquisa na internet tende a fornecer informações incorretas a respeito do OC, por relacionar ao termo sites com baixa qualidade de informações, apesar do intenso comércio. Acerca das propriedades do OC, não foram encontradas corroborações em estudos científicos com metodologias e conclusões coerentes. Portanto, as recomendações de cautela ? pelo conteúdo de ácidos graxos saturados e densidade calórica - encontram-se atuais, dada a falta de evidência de segurança do consumo irrestrito do OC, relacionado à piora do perfil lipídico e consequente aumento de risco de DCV.