Neurobiologia da dependência e abstinência relacionado ao uso de opioides

Abstract

Os opioides naturais são encontrados em plantas ou produzidos pelo organismo humano. O Brasil é o maior consumidor de analgésicos opioides da América do Sul. O uso prolongado dessa substância causa alterações celulares responsáveis pelo desenvolvimento da dependência e abstinência. As drogas de abuso ativam os sistemas de recompensa cerebral. Os efeitos do reforço positivo de drogas com potencial para dependência, buscando as origens e áreas terminais do sistema dopaminérgico mesocorticolímbico é estudado pela neurobiologia, assim como a abstinência. Essa está associada às alterações nos circuitos neuronais, e modificações no padrão de neurotransmissão observado. Escrever os aspectos neurobiológicos da dependência e abstinência relacionados ao uso de opioides. Trata se de revisão bibliográfica realizada entre 2020 e 2021. Foram utilizadas as plataformas de busca Scielo, PubMed e Google acadêmico com limite de data de publicação a partir de 2001, em português e inglês, e os descritores: neurobiologia, opioides, dependência, abstinência e os respectivos termos em inglês. Os critérios de inclusão utilizados foram a disponibilidade do artigo na íntegra com acesso gratuito e com conteúdo pertinente ao objetivo do trabalho. Os opioides levam a ativação de proteínas que alteram o transporte de cálcio na membrana celular, que será mediado pela interação entre receptores da classe mu, kappa e delta. Esses compostos são analgésicos potentes, seguros e efetivos quando são utilizados de maneira correta, através de orientação médica. As drogas de ação curta são mais adictivas do que as drogas de ação prolongada, pois a depuração de uma droga de ação prolongada resulta em lenta diminuição da concentração da droga ao longo do tempo, evitando a abstinência aguda. O sistema de recompensa é ativado pelos opiáceos de duas formas: eles inibem os interneurônios GABAérgicos na VTA, que desinibe os neurônios dopaminérgicos do VTA. E agem diretamente nos receptores opioides dos neurônios do núcleo accumbens (NAc), e os receptores opioides, como os receptores dopaminérgicos D2, sinalizam via proteína Gi; portanto, os dois mecanismos convergem dentro de alguns neurônios NAc, segunda ação refere-se ao bloqueio da inibição do GABA, com isso, os efeitos da dopamina tornam-se mais fortes e duradouros. O locus ceruleus (LC) é o maior conjunto de neurônios cerebrais que contêm norepinefrina, e sofre inibição aguda pelos opioides, através da ativação de um canal de potássio e a inibição de uma corrente de sódio. Os neurônios do LC promovem tolerância a essas ações, e a interrupção abrupta da droga resulta no aumento de disparo neuronal a níveis pré-exposição, e sua hiperatividade é responsável pelos sintomas da crise de abstinência. Adiciona-se na crise de abstinência a depleção dos níveis de dopamina, principalmente no NAc, relacionado ao forte desejo (fissura) de consumir a droga novamente. O consumo de opioides pode promover danos irreparáveis ao indivíduo, o que torna essencial a supervisão e manejo farmacoterápico racional quanto à droga, a dose e a frequência de uso, a fim de monitorar os efeitos tóxicos agudos, o desenvolvimento da tolerância, abstinência e dependência.