Programação metabólica nos primeiros 1000 dias de vida e o desenvolvimento da obesidade infantil

Abstract

A programação metabólica é caracterizada pela influência de estímulos precoces que geram alterações fisiológicas e metabólicas que podem perdurar durante a vida, aumentando as chances de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. Este fenômeno ocorre na fase intrauterina e se estende aos primeiros dois anos, que compreendem os primeiros 1000 dias de vida, considerado um período de janela de oportunidades. Nesta fase, fatores relacionados à alimentação e a saúde da gestante, bem como a nutrição do lactente, podem estar envolvidos no aumento de chance de obesidade infantil, considerado um problema de saúde pública no Brasil. O objetivo deste trabalho foi verificar fatores relacionados à programação metabólica durante os primeiros 1000 dias de vida e o desenvolvimento da obesidade infantil. Estudo realizado por meio da revisão bibliográfica de artigos científicos disponíveis nas bases de dados LILACS, PUBMED e SCIELO, publicados nos idiomas Inglês e Português, nos últimos 10 anos. Utilizou-se a técnica booleana AND para combinar os descritores. A obesidade é considerada uma doença crônica, proveniente da interação de fatores comportamentais, ambientais e biológicos. Neste sentido, a programação metabólica ocorre em um período crítico do desenvolvimento humano, resultando em alterações sistêmicas permanentes, como maior facilidade de deposição de gordura corporal e alterações na regulação do balanço energético, os quais estão envolvidos no desenvolvimento da obesidade. Mulheres que apresentam peso excessivo antes e durante a gestação têm maior risco de terem bebês grande para a idade gestacional e filhos com IMC maior durante a infância. Em contrapartida, o ganho de peso insuficiente durante a gravidez pode gerar complicações, levando ao baixo peso ao nascer, o que resulta em ganho de peso acelerado no início da vida e maior chance de obesidade na infância. Dentre as alterações patológicas mais frequentes durante a gestação, destaca-se o diabetes mellitus gestacional, que se relaciona a ocorrência de macrossomia fetal, e está diretamente associada ao aumento de obesidade infantil. Já a hipertensão gestacional, sendo um fator de risco para o nascimento de bebês pequenos para idade gestacional e baixo peso, também está envolvida no desenvolvimento de obesidade infantil. Durante a gestação, o consumo alimentar reflete diretamente no aporte de nutrientes para o feto. A elevada ingestão de carboidratos e de gordura alcança a circulação fetal, estimulando o maior ganho de peso. Na fase de lactação, o leite materno atua como protetor contra doenças crônicas não transmissíveis. Em contrapartida, a oferta de leite de vaca e de fórmula infantil pode estimular maior deposição de gordura corporal no lactente e favorecer a obesidade. A alimentação complementar contribui para moldar as preferências alimentares na infância e hábitos alimentares mais saudáveis. No entanto, a introdução alimentar antes dos seis meses de vida do lactente tem se relacionado à danos, como a nutrição inadequada e maior risco de obesidade. Conclui-se que dentro dos primeiros 1000 dias de vida, aspectos como alimentação, tipo de aleitamento, ganho de peso na gestação, doenças associadas e estado nutricional materno alterado estão relacionados à programação metabólica da criança e o desenvolvimento da obesidade infantil.