Zika: a cobertura da epidemia por quatro jornais brasileiros em um cenário de vulnerabilidades

Abstract

A epidemia de zika no Brasil, que teve como epicentro a região Nordeste, trouxe uma consequência dramática: o nascimento de crianças com uma grave Síndrome congênita. A doença teve seu ápice entre os anos de 2015 e 2016, período em que o país vivia grande instabilidade política e econômica e ainda se preparava para sediar os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. Ao analisar a cobertura jornalística da zika feita por quatro periódicos impressos brasileiros - três deles de alcance nacional e o quarto de âmbito regional -, buscou-se identificar dilemas bioéticos que surgiram ao longo desse período, como a indicação, por parte de governos e instituições, de adiamento da gravidez por tempo indeterminado a casais que viviam nas áreas de surto da doença. Constatou-se também que os jornais incorporaram o discurso do poder ao transferir à população a responsabilidade pelo combate ao Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus. Houve ainda a busca por informação em centros de pesquisa no Nordeste do país, rompendo com o monopólio de fontes do eixo Rio-São Paulo. Mães, gestantes e crianças, por sua vez, ocuparam segundo plano nas páginas, normalmente em histórias de superação, enquanto a figura do pai quase inexistiu. O estudo revelou um cenário de vulnerabilidades em que os mais frágeis dos frágeis tiveram pouca voz na cobertura.

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