Comparação fenotípica e genotípica do perfil de resistência de isolados de S. Pseudintermedius de origem veterinária na grande São Paulo

Abstract

A resistência aos antimicrobianos (RAM) é classificada como uma das 10 principais causas de ameaças globais à saúde. O uso indiscriminado de antimicrobianos na medicina humana e veterinária e a disseminação de bactérias resistentes e seus genes de resistência contribuem para a piora dessa situação. O Staphylococcus pseudintermedius, parte da microbiota normal de cães, principalmente da faringe e mucosas nasal e oral, é uma bactéria oportunista frequentemente associada à infecções como piodermite, otite e, em casos mais graves, infecções sistêmicas dos tratos urinário, respiratório e reprodutivo. Por conta de seu potencial zoonótico, da provável transferência de genes de resistência entre isolados humanos e veterinários e do aumento de exemplares resistentes e multidrogas resistentes, um estudo mais aprofundado se faz necessário. A resistência à maior parte dos antimicrobianos da classe dos beta-lactâmicos é mediada pela presença do gene mecA, contido no cassete Estafilocócico mec (SCCmec), elemento genético móvel único com localização sítio específica no cromossomo Estafilocócico. A variabilidade terapêutica disponível para cepas MRSP se faz ainda menor quando essas bactérias também se apresentam multidroga resistentes. Recentemente, nosso grupo de pesquisa identificou 51 S. pseudintermedius, por meio do sequenciamento da região V1-V3 do gene 16S do rRNA, isolados majoritariamente de infecções cutâneas e otológicas de animais de companhia de regiões da grande São Paulo. Estes isolados foram submetidos aos testes de disco-difusão para a avaliação do perfil de resistência fenotípico para as classes dos beta-lactâmicos, tetraciclinas, fluoroquinolonas, grupo MLSB e aminoglicosídeos. Para a avaliação do perfil de resistência genotípico, foi realizada uma reação em Cadeia da Polimerase (PCR) convencional com genes para as mesmas classes antimicrobianas. Foram encontradas 4 discrepâncias na classe dos beta-lactâmicos, 6 na classe das tetraciclinas, 12 na classe das fluoroquinolonas, 4 no grupo dos macrolídeos, lincosamidas e etreptograminas B (MLSB) e 7 na classe dos aminoglicosídeos. Outros isolados que não amplificaram nenhum gene de resistência, mas que apresentaram resistência nos testes de disco-difusão, sugerem outros mecanismos de resistência que não os testados no presente estudo. Analisar as incompatibilidades entre fenótipo e genótipo permite inferir a eficácia do tratamento de escolha. Além disso, realizar o mapeamento dos genes de resistência e das bactérias multidroga resistentes auxilia na criação de projetos que visem o combate à resistência e procurem otimizar o tratamento antimicrobiano.