Análise do comportamento aplicada (ABA) e alimentação de crianças com transtorno do espectro autista: revisão integrativa e material instrucional

Abstract

O transtorno do espectro autista (TEA) é caracterizado por déficit persistente na comunicação e interação social, associado a padrões de comportamentos, interesses ou atividades restritas. Objetiva-se revisar estudos que evidenciem a eficácia da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) na abordagem terapêutica da alimentação de crianças com Transtorno do Espetro Autista (TEA) com vistas às dificuldades prevalentes como seletividade alimentar e risco nutricional para sobrepeso e obesidade. A partir do estudo retrospectivo, o presente trabalho propõe também um material instrucional (guideline) de intervenção nutricional baseado em ABA para a abordagem comportamental da alimentação de crianças com TEA. Efetuou-se uma revisão integrativa nas bases de dados Capes, Scielo, PubMed, BVS, Elsevier e Google Academic considerando os idiomas português, inglês e espanhol com sistematização PRISMA desde o artigo original de ABA (1964) até os dias atuais resultando em 19 estudos que contemplaram os critérios de pesquisa adotados. A análise dos dados aponta o uso desta abordagem para reduzir comportamentos interferentes durante as refeições e promover comportamentos alimentares adequados, especialmente para a aceitação de novos alimentos e aumento do volume de ingestão. O tratamento nutricional deve abranger aspectos clínicos, como questões fisiológicas e suplementação quando necessário; sensoriais, considerando alterações de integração dos sentidos e exposição gradual de alimentos e comportamentais; com estratégias ABA iniciando das menos intrusivas para as mais complexas, com associação de reforço diferencial positivo. A participação ativa dos cuidadores é crucial para a generalização dos comportamentos alvo, envolvendo treinamento e suporte contínuo, incluindo o uso de estratégias online. No entanto, há uma clara necessidade de mais estudos retrospectivos e intervenções primárias para definir lacunas, adaptando abordagens conforme o nível de suporte da criança com TEA e topografia dos comportamentos alimentares interferentes, bem como estabelecer protocolos mais definidos para profissionais de saúde.

Autism Spectrum Disorder (ASD) is characterized by persistent deficits in social communication and interaction, coupled with restricted patterns of behavior, interests, or activities. The aim of this study is to review research that demonstrates the effectiveness of Applied Behavior Analysis (ABA) in the therapeutic approach to feeding children with Autism Spectrum Disorder (ASD), focusing on prevalent difficulties such as food selectivity and nutritional risk for overweight and obesity. Based on a retrospective study, this work also proposes an instructional material (guideline) for nutritional intervention based on ABA for the behavioral approach to feeding children with ASD. An integrative review was conducted in the Capes, Scielo, PubMed, BVS, Elsevier, and Google Scholar databases, considering the languages Portuguese, English, and Spanish, using the PRISMA systematization from the original ABA article (1964) to the present day, resulting in 19 studies that met the adopted research criteria. Data analysis indicates the use of this approach to reduce interfering behaviors during meals and promote appropriate eating behaviors, especially for accepting new foods and increasing food intake volume. Nutritional treatment should encompass clinical aspects, such as physiological issues and supplementation when necessary; sensory aspects, considering sensory integration changes and gradual exposure to foods; and behavioral aspects, with ABA strategies starting from less intrusive to more complex ones, involving positive differential reinforcement. Active participation of caregivers is crucial for the generalization of target behaviors, involving training and ongoing support, including the use of online strategies. However, there is a clear need for more retrospective studies and primary interventions to define gaps, adapting approaches according to the level of support for children with ASD and the topography of interfering eating behaviors, as well as establishing more defined protocols for healthcare professionals.