Aspectos alimentares relacionados à depressão pós-parto

Abstract

A mudança de papel que a mulher vivencia com a chegada da maternidade traz novas responsabilidades, e junto delas, sentimentos de dúvida, medo e ansiedade podem se fazer presentes. É comum nos primeiros dias do pós-parto um repentino sentimento de tristeza, conhecido como baby blues, que é desencadeado por fatores hormonais, junto a mudança repentina na rotina da mulher. A preocupação é maior quando este sentimento passa a ser mais intenso e duradouro, caracterizando a depressão pós parto (DPP). A DPP é um transtorno com início nas primeiras quatro semanas do pós parto e está associada com inúmeras consequências, incluindo um vínculo mãe e filho superficial, dificuldade de cuidar do recém-nascido e uma maior retenção de peso da mãe. Intervenções nutricionais adequadas são opções promissoras para o manejo da saúde mental materna neste período, pois podem beneficiar a melhoria e tratamento desta patologia. O objetivo deste trabalho foi investigar os aspectos alimentares e nutricionais envolvidos na DPP em mulheres.Foi realizada uma revisão de literatura de artigos científicos por meio do levantamento bibliográfico nas bases de dados ScientificElectronic Library Online (SciELO) e Medical LiteratureAnalysisandRetrievel System Online (Medline). Foram selecionados artigos publicados entre 2013 a 2023, priorizando ensaios clínicos e revisões sistemáticas em língua inglesa e portuguesa. A depressão é conhecida por ser causada pela atividade deficiente do neurotransmissor serotonina. Este neurotransmissor está relacionado diretamente às alterações de humor e outros processos emocionais. A maioria das pessoas depressivas apresenta níveis baixos de serotonina ou do receptor ao qual está se liga. Manter os níveis de serotonina suficientemente elevados na fase do puerpério pode reduzir a possibilidade de DPP. Diversos estudos demonstraram que certos nutrientes podem apresentar efeitos antidepressivos, dentre os quais destaca-se o magnésio, zinco, triptofano, vitamina D, vitaminas do complexo B e ácido graxo polinsaturado do tipo ômega 3. Esses nutrientes podem atuar em vias metabólicas da conversão do triptofano em serotonina, ou reduzir o processo inflamatório que compromete a sua ação. Podemos citar também a importância de alimentos como produtos lácteos, carboidratos de absorção lenta, carne, peixe e frango, que podem contribuir na manutenção dos níveis de serotonina. Estudos recentes demonstraram que as deficiências em alguns nutrientes, como vitaminas B e D, ácidos graxos poliinsaturados n-3 (PUFA), minerais, ácido fólico, ferro, e antioxidantes aumentam o risco de ocorrência de DPP. Observou-se também que os níveis séricos de colesterol e os níveis plasmáticos de triptofano estão inversamente correlacionados com a doença e os níveis séricos de vitamina D estão inversamente associados à depressão perinatal. Conclui-se que manter os níveis de serotonina suficientemente elevados na fase do puerpério pode diminuir a possibilidade de DPP. Alguns nutrientes, como ômega 3, vitaminas e minerais podem interferir na síntese da serotonina, contribuindo na redução da depressão. Essas informações destacam a importância de uma nutrição adequada no período pré e pós-parto. Visto que as terapias nutricionais podem ser acessíveis, seguras deve-se dar mais atenção às variáveis relacionadas à ingestão alimentar na DPP.