SARS-COV-2 como agente promotor da doença de Alzheimer: possíveis inter-relações entre a patogenia das duas doenças

Abstract

Diversas evidências demonstram que as consequências decorrentes da Covid-19 não são restritas ao sistema respiratório, acometendo outros importantes sistemas, tal como o sistema nervoso. Tendo em vista a capacidade neurotrópica e neuroinvasiva do SARS-CoV-2, o crescente número de indivíduos recuperados da infecção no país e estudos prévios com vírus da mesma família levando a quadros neurodegenerativos, buscou-se avaliar de forma crítica, por meio de uma revisão sistemática, a potencial relação causal entre a Covid-19 e a doença de Alzheimer, com o objetivo de analisar e discutir as principais hipóteses em torno do tema, de modo a fornecer um conteúdo panorâmico que auxilie como referencial teórico para futuros estudos experimentais. Para tal, foram adotados os critérios e estratégias estabelecidos na diretriz PRISMA 2020, adaptada ao contexto de um trabalho de conclusão de curso. O levantamento contou com pesquisas nas bases de dados PubMed e SciELO, onde foram obtidos 302 artigos de acesso completo gratuito que, após a triagem (exclusão = 5) e análise perante os critérios de elegibilidade (275) descritos detalhadamente na metodologia, resultaram na seleção de um total de 22 trabalhos para essa revisão, que contou com o uso de outros artigos e materiais para a complementação teórica acerca do cenário em que os artigos selecionados se inseriam. A última consulta as bases de dados foi realizada no dia 18 de dezembro de 2021 e todos os artigos obtidos foram avaliados igualmente perante critérios estabelecidos, de modo a evitar vieses em sua seleção. Para a redação, as informações, os dados e os resultados foram apresentados com o objetivo de serem claros, didáticos e críticos. Ao término da revisão, conclui-se que o SARS-CoV-2, por meio de seus mecanismos diretos e indiretos no organismo, parece conferir à Covid-19 um potencial para favorecer processos que constituem hoje a base para o estabelecimento da doença de Alzheimer. Contudo, maiores investigações em torno do assunto são necessárias, principalmente estudos de caráter experimental (a fim de comprovar ou de descartar os mecanismos discutidos) e um monitoramento contínuo de indivíduos recuperados que manifestaram por um longo período de tempo ou ainda manifestam sintomas neurológicos da infecção, a fim de contornar limitações como o conhecimento incompleto acerca da patogênese da Covid-19 e da doença de Alzheimer, a influência de cepas e variantes virais nesses processos e as diferenças populacionais na maneira como ocorrem. Ainda que exista um curto período de tempo desde o surgimento dos casos de Covid-19 que dificulta a detecção do início de um quadro neurodegenerativo como consequência da infecção, a discussão e elaboração de estudos em torno desse assunto se faz importante desde já, em função do número crescente de sobreviventes da Covid-19, de relatos de sequelas nesse grupo de indivíduos e da ausência de uma terapia capaz de curar a doença de Alzheimer, um quadro prevalente, debilitante e alvo de diversos estudos mundo afora que acaba de ganhar um novo candidato a seus fatores de risco.