O papilomavírus humano em relações sexuais com duas vulvas envolvidas

Abstract

Quando abordamos o tema de saúde de mulheres cisgênero e lésbicas, observamos um cenário de invisibilidade e iniquidades, assim como falta de informações e indicadores para formação de políticas públicas. Além disso, o despreparo, o preconceito e o estigma, frequentes nos discursos de profissionais, aparecem como uma barreira ao acesso a serviços de saúde qualificados. Apesar da produção científica que tem como objetivo central as questões relativas à saúde da população LGBTQIA+, com exceção da epidemia de HIV/AIDS, ser recente e vir crescendo cada vez mais, esta população ainda é pouco representada academicamente. O HPV é uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais prevalentes no mundo e está associado a 99,7% dos casos de câncer cervical. Até pouco tempo atrás, profissionais da área da saúde não consideravam que em relações sexuais, nas quais há apenas duas vulvas envolvidas, haveria risco de contrair o HPV. No entanto, estudos e relatos de caso demonstraram testes de HPV positivos e lesões epiteliais escamosas em pessoas com vulva que têm relações, exclusivamente, com outras pessoas com vulva. Como o HPV pode ser transmitido pelo contato entre a pele, é provável que em relações sexuais nas quais há duas vulvas envolvidas, as pessoas se infectem por meio do contato vulva-vulva, oral-vulva ou até mesmo por contato digital-vulva. Além disso, o DNA do HPV tem sido detectado em fômites e pele não mucosa, como é o caso dos dedos. Portanto, pessoas com vulva podem contrair HPV em práticas sexuais que envolvam dedos e compartilhamento de brinquedos.