Influência da microbiota intestinal no transtorno depressivo maior

Abstract

A depressão é uma desordem sistêmica caracterizada pelo o aparecimento de diversos sintomas melancólicos, como anedonia, anorexia, perda de peso, ansiedade, entre outros. É uma das doenças mais prevalentes do mundo, sendo esta uma denominação geral para diversos transtornos, entre eles o transtorno depressivo maior (TDM). Não há consenso em relação à etiologia dessa patologia, porém há diversas teorias. A microbiota intestinal (MI) possui uma composição individual e específica, influenciada pela genética, dieta, idade, metabolismo, uso de medicamentos, estresse e geografia. Assim, realizou-se uma revisão bibliográfica narrativa buscando relacionar a MI com transtornos psiquiátricos, entre eles a depressão. Uma das teorias da etiologia do TDM é a da psico-neuro inflamação, com um aumento de citocinas pró inflamatórias causando uma inflamação crônica de baixo grau. Isso ocorre por uma ativação do sistema imune mediada por células e inflamação, com o aumento da concentração de receptores solúveis de interleucinas-2 (sIL-2R), neopterina e maior produção de interferon-? (INF-?). A ativação do sistema imune pode, consequentemente, causar uma neuroinflamação e neuroprogressão (neurodegeneração), redução da neurogênese e apoptose neuronal. Uma outra teoria se refere ao GABA, havendo uma redução das concentrações em pacientes com depressão comparados com controles saudáveis. As bactérias presentes na MI desempenham diversas funções benéficas como decomposição de alimentos e suporte ao sistema imunológico. A MI é influenciada diretamente pela dieta, sendo que, com uma alimentação inadequada há uma proliferação de bactérias patogênicas, podendo causar uma disbiose intestinal. O eixo intestino cérebro (EIC) é um sistema complexo de sinalização bidirecional que mantem a homeostase do organismo, sendo uma via de mão dupla que possui interferência direta com a nutrição. Quando a MI está saudável, os níveis de células inflamatórias ficam estáveis mantendo assim, o humor, emoções e cognição sob controle, fazendo com que o funcionamento do sistema nervoso central (SNC) não entre em desiquilíbrio. Pesquisadores vêm descrevendo a influência da microbiota não apenas na saúde intestinal, mas também na psiquiátrica, inclusive no que diz respeito à propensão à depressão. A composição da microbiota fecal em pacientes com alguma desordem psicológica tem se mostrado diferente em relação a pacientes sem esse distúrbio. É notável a importância da compreensão da MI e sua influência em processos neurológicos que podem desencadear patologias como a depressão e o transtorno ansioso generalizado, provavelmente devido ao EIC. São necessários mais estudos relacionando a MI com o TDM para um consenso científico.