Vegetarianismo nos primeiros mil dias

Abstract

Introdução: Os primeiros mil dias é o período compreendido desde a concepção até os 2 anos de idade, em que há um desenvolvimento físico e cognitivo acelerado. A dieta materna, o tipo de amamentação recebido e a alimentação ofertada às crianças nesse período podem afetar de modo permanente o desenvolvimento metabólico e biológico do indivíduo, com desdobramentos na vida adulta. A dieta vegetariana, em seus diferentes tipos, tem sido cada vez mais adotada por diversos motivos, sendo considerada, pela Associação Dietética Americana (ADA) e Academia de Nutrição e Dietética (AND), capaz de prover todas as necessidades nutricionais em qualquer fase da vida. Objetivo: Avaliar as implicações da prática do vegetarianismo nos primeiros mil dias e discutir riscos, benefícios e necessidades específicas. Método: Realizou-se uma revisão bibliográfica da literatura dos últimos 20 anos, nas bases de dados Pubmed, Scielo, Medline e Google Acadêmico. A pesquisa foi baseada na combinação das seguintes palavras-chave: alimentação complementar, crianças, dieta vegetariana, introdução alimentar, gestação, gravidez, lactação, leite materno, nutrição e vegetarianismo, além das lógicas booleanas and e or. Resultados: As dietas vegetarianas podem oferecer inúmeros benefícios à saúde em longo prazo, desde que balanceadas e mediante acompanhamento nutricional. Elas oferecem maior teor de glicídios, fibras, ômega-6, carotenoides, ácido fólico, vitaminas C e E, magnésio, antioxidantes e fitoquímicos, podendo haver deficiência, no entanto, de ferro, cálcio, zinco, iodo e vitaminas A, D e B12. Essas deficiências dependem do nível de adequação da dieta e podem ser supridas mediante suplementação ou aumento da ingestão de alimentos fonte de origem vegetal. Estudos demonstraram que grávidas vegetarianas apresentam maior ingestão de folato, magnésio e fibras e tendência a um IMC menor, além de efeito protetor sobre a pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e parto prematuro. Na lactação, a dieta da nutriz incide diretamente sobre o conteúdo de micronutrientes do leite materno, sendo recomendado o aumento da ingestão de proteína e zinco. A alimentação complementar vegetariana saudável, iniciada após os 6 meses de idade, deve conter alimentos ricos em energia e micronutrientes, principalmente ferro, zinco, cálcio, folato e vitaminas A e C, e sem adição de sal. Dos 6 aos 18 meses, deve-se realizar a suplementação de ferro, vitamina D e B12 à todas as crianças e se atentar às recomendações de proteína e zinco para as crianças vegetarianas, que tendem a apresentar IMC menor comparadas a crianças que consomem outros tipos de dieta. Além disso, leites vegetais, açúcar e alimentos ultraprocessados não devem ser oferecidos antes dos 24 meses, por serem nutricionalmente inadequados e comprometer o crescimento e desenvolvimento da criança. Conclusão: O padrão nutricional é multifatorial, ou seja, depende do nível socioeconômico da gestante, etnia, nível de escolaridade e o motivo da escolha de seguir o vegetarianismo. A dieta vegetariana promove benefícios à saúde e é capaz de prover todas as necessidades nutricionais nos primeiros mil dias, tanto para a mulher quanto para a criança. Todavia, a orientação profissional é imprescindível, sobretudo para o acompanhamento de cada período, ajuste da suplementação e planejamento alimentar.