Impacto da análise de marcha na tomada de decisões clínico-cirúrgicas

Abstract

A marcha humana compreende uma sequencia de eventos rápidos e complexos de difícil observação clínica. Atualmente, anormalidades na locomoção humana podem ser definidas com precisão por meio da análise de marcha tridimensional (AMT), exame no qual câmeras de vídeo de alta resolução são conectadas a um processador central e através de softwares adequados pode-se quantificar o movimento em três dimensões. Este exame complementar reduz a incerteza clínica e a confirmação ou exclusão diagnóstica, eventualmente orientando a conduta terapêutica. Diversos estudos sugerem que a AMT pode alterar a conduta terapêutica, principalmente quanto a planos cirúrgicos iminentes, pelo maior entendimento da patomecânica da marcha. Entretanto, a AMT não substitui a observação humana, o exame físico ou de imagem, pois todos são complementares. O objetivo deste trabalho foi verificar a concordância entre propostas para vários tipos de tratamentos cirúrgicos ou conservadores feitas pelo profissional que solicitou o exame e as indicações feitas após a AMT. Também, identificar quais os principais desvios e alterações biomecânicas relacionados com as discordâncias observadas. Foi realizado um estudo retrospectivo (Revisão de prontuários do Laboratório de Estudo do Movimento do Hospital Israelita Albert Einstein -LEME), entre outubro/2008 a dezembro/2015, aprovado pelo comitê de ética local. Foram avaliados, através do laudo de análise de marcha (AM), informações sobre motivo do encaminhamento médico,a impressão pré-estudo do médico encaminhador e a conclusão do exame, sendo excluídos apenas os exames que não continham um laudo explicativo. Após a seleção, foram analisadas as seguintes informações: Hipótese diagnóstica, Motivo do Encaminhamento, Tratamento pretendido pré-AM e tratamento sugerido após AM. Todas as informações foram tabuladas em planilhas do Excel®, e categorizadas entre CONCORDA (impressão clínica do médico e a conclusão do laudo da análise de AM estão de acordo), NÃO CONCORDA (impressão clínica do médico e a conclusão do laudo da análise de AM não estão de acordo) e CONCORDA PARCIALMENTE (impressão clínica do médico e a conclusão do laudo da AM estão parcialmente de acordo). Também houve categorização das principais deformidades encontradas: deformidades de tornozelo, joelho e torcionais. Foram registrados 316 exames de marcha no período citado, sendo 211 excluídos, totalizando 105 prontuários incluídos. Em 38% houve discordância entre a impressão/indicação clínica pré estudo e o resultado do exame. Houve concordância entre observação clínica e AM em 27,6% e em 34,3% dos casos houve concordância parcial. Em relação às principais alterações encontradas, verificou-se que 33,3% destas relacionavamse à deformidades de tornozelo; 47,6% a deformidades torcionais e 19% deformidades de joelho. Houve maior concordância entre a avaliação clínica e a conclusão do laudo da AM em pacientes que apresentavam alterações no tornozelo (57,1%). Foi também observado maior índice de discordância em pacientes com deformidades no plano transverso (44%). Na concordância parcial, houve maior índice entre os pacientes com deficiências torcionais (48,0%) e menor índice nos pacientes com deficiências no tornozelo (14,3%). Neste estudo houve importante concordância entre a avaliação clínica e a AMT para as deformidades de tornozelo, porém alto índice de discordância nas alterações no plano transverso. Esses achados demonstram que pacientes com alterações torcionais, difíceis de serem visualizadas apenas por avaliação clínica tem indicação mandatória para AM.